Lomadee


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vendedores Ambulantes - Uma tradição que desaparece.

Vendedores ambulantes

Vendedores ambulantes; uma tradição que desaparece da Cidade Maravilhosa. Substituídos pelos sofisticados camelôs, os vendedores ambulantes, toda uma gama de tipos populares, estão cada dia se afastando mais do centro da cidade, expulsos pelo progresso. Nos subúrbios e mesmo em alguns bairros, estes vendedores ainda nos fazem recordar com seus pregões, o nosso tempo de calças curtas.
Vassoureiro, garrafeiro, sorveteiro, funileiro, o homem do periquito e tantos outros, faziam e ainda fazem de sua profissão a alegria de muita gente. Seus pregões, suas melodias de vendas, eram e são tão simples como eles, mas seu efeito publicitário persiste por muito: quem não sente desejo de comprar sorvete, ao ouvir um dos remanescentes sorveteiros, a anunciar em versos de pé quebrado, o "geladinho" de coco e de abacaxi?
Até o final da segunda guerra, os vendedores ambulantes dominavam a Cidade Maravilhosa.
Era o homem que comprava garrafas e jornais, o que vendia vassouras, o que consertava panelas, o que, com o seu periquito verde, vendia a sorte para as mocinhas desejosas de encontrar príncipes encantados. Havia sempre quem fosse à sua porta para vender ou comprar alguma coisa. Mas os tempos passaram-se. O progresso caminhou mais rápido que a tradição, e foi aos poucos expulsando estes tipos. Muitos se retiraram para os bairros e suburbios mais longínquos, onde até hoje se pode ouvir os seus pregões; outros, preferiram se estabelecer.
Nacionalidades
A nacionalidade também influi na especialidade. Peixeiro por exemplo, só italiano; garrafeiro só português; sorveteiro um nacional, um baiano que saiba bem preparar um sorvete de coco.
É interessante observar como ainda hoje se mantém certas tradições de nacionalidades entre os vendedores ambulantes. O amolador de facas, que empurra o cavalete com a pedra de amolar, é sempre um italiano; o jornaleiro, também. Os portugueses preferem atividades como vender frutas e legumes, gelo, flores e plantas.
Os judeus dão sua preferência ao comércio de venda e compra de roupas. Quem ainda não ouviu o clássico pregão do homem que compra tudo. Este ramo pertence, sem dúvida alguma, aos judeus. E ninguém tenta roubar-lhe o campo. Mesmo porque não saberia esta difícil arte de comprar sapatos velhos para depois vendê-los.
Mas também ninguém, que não fosse brasileiro, teria a ousadia de vender quitutes baianos ou sorvetes ou amendoim torrado.
Portanto, nesta questão de comércio ambulante, não há perigo de concorrência. Há lugar para todos, desde que o "rapa" permita.
Pregões
Os pregões dos vendedores ambulantes é outra faceta desta tradição. Mesmo sem conhecer o português, muitos foram vendedores ambulantes que nos legaram belíssimos pregões que fariam inveja a muitos criadores de jingles. Quem não se lembra dos vendedores de laranjas, quando se vendia a fruta ao cento por cinco ou dez mil réis. O caminhão transbordando de laranjas, parava numa esquina. O vendedor, em pleno pulmões, anunciava a sua presença: "Olha a laranja, dona Teresa, Traga a sacola pois vou embora". Na verdade, não havia rima, entretanto, sabia dar ritmo, sabia musicar os seus jingles.
Nas músicas de Carnaval
Os vendedores ambulantes também já serviram de temas a muitas músicas de Carnaval. Por volta de 1937 ou 1938, Dircinha Batista gravou uma marchinha que foi grande sucesso: O periquitinho verde. Não há dúvida que era uma homenagem ao homem do realejo que depois de tocar alguma velha música, abria a gaiola do periquito (algumas vezes papagaio), sob a qual havia uma gaveta com papéis dobrados. Em troca de um pagamento, o homem do realejo batia com o dedo na cabeça do pássaro e este, mais do que rápido, tirava a sorte. Era o homem que vendia um pouco de sonho. Hoje ainda existem alguns, espalhados por este grande Rio de Janeiro.
O progresso


Mas o progresso é, realmente, o grande inimigo dos vendedores ambulantes, pior ainda do que a fiscalização (o rapa). O geleiro, por exemplo, que antes passeava pela cidade com a sua bicicleta, já não tem muito o que fazer; as geladeiras elétricas estão lhe tirando o pão de cada dia. Os sorveteiros não podem concorrer com os da carrocinhas. A matéria plástica suplantou o artesanato de flores de papel crepon e os seus vendedores não mais encontram com facilidade, compradores para as suas mercadorias. E assim, aos poucos, vão cedendo o seu lugar. Mas para quem os ouviu e viu, ficou a grata lembrança de seu tipo, de seu pregão.